ENTREVISTA DE PEDRO MOURÃO AO RECORD
O juiz demitiu-se da CD da Liga, na sequência do caso Mateus, e mostra-se indignado
"FALTAM HOMENS VERTICAIS"
RECORD - A decisão de arquivar o processo Mateus e manter o Gil Vicente na Liga vai contra a verdade desportiva?
PEDRO MOURÃO - A decisão que no dia 1 de Junho na reunião da Comissão Disciplinar (CD) da Liga foi tomada por unanimidade pelos membros legalmente em condições de o fazer limitou-se a sancionar disciplinarmente um associado da Liga (Gil Vicente), em cumprimento do estabelecido num regulamento, a que todos os associados devem obediência, sob pena de subversão da verdade desportiva.
R - Demitiu-se por causa disso?
PM - O pedido de demissão, assim como o do dr. Frederico Cebola, teve única e exclusivamente a ver com as condutas dos dois membros da CD que, pelos factos conhecidos, seriamente indiciadores de concertação e concretizados contra as mais elementares regras de decisão em colectivo, como mais tarde na reunião do passado dia 9 de veio a comprovar, violando para tal princípios legais e éticos, cujo conhecimento e cumprimento lhes era exigível, não só por serem juristas, e particularmente por um deles ser magistrado judicial e o outro advogado.
R - Na sua opinião o que levou a que a decisão tomada na reunião de dia 1 fosse alterada no dia 9?
PM - Não se sabe em pormenor o que levou à alteração da intenção de voto do senhor dr. Gomes da Silva e o levantamento do impedimento do dr. Domingos Lopes da reunião do dia 1 para a do dia 9. Talvez os próprios, ou eventualmente outros, e se assim o entenderem, o possam esclarecer.
R - Porque fala em "máfia" e "camorra"?
PM - A referência de "máfia" ou "camorra" no caso em apreço e no essencial, só poderá ser entendida em relação a concertação objectivada em procedimentos opacos e inerentes condutas que, visando determinado desiderato, se pautam por ausência de respeito por regras e pessoas.
R - Como é que o acórdão redigido inicialmente tem uma adenda manuscrita que revoga a decisão inicial?
PM - O acórdão tem data de 5 de Junho, dia do seu depósito na secretaria da CD da Liga no Porto, aguardando-se nesse dia a assinatura no mesmo do dr. Gomes da Silva, a fim de se proceder à notificação dos interessados, o que não se veio a concretizar, como é sabido. O acórdão apareceu na reunião da passada 6.ª feira, dia 9 de Junho, pela mão do senhor dr. Gomes da Silva, com o seu voto, agora de vencido, e aí já manuscrito. Como de imediato o senhor dr. Domingos Lopes disse que afinal passou a entender não estar impedido, aquele facultou-lhe o acórdão, onde ele passou a escrever, copiando de um papel de que era portador, aderindo, em termos conclusivos, ao até então voto de vencido do senhor dr. Gomes de Silva. Face à posição assumida pelo vogal agora desimpedido, o senhor dr. Gomes da Silva disse que, como tinha voto de qualidade, os votos de vencido passavam a fazer a maioria!
R - O advogado Domingos Lopes podia votar na reunião de dia 9?
PM - O caso em apreço foi deliberado na reunião realizada no dia 1 de Junho (5.ª feira) pelas razões conhecidas. Nessa reunião, o senhor dr. Domingos Lopes, expressamente e perante todos os presentes, disse de viva voz declarar-se impedido na decisão deste processo disciplinar, por um seu familiar ser dirigente do Gil Vicente. A partir da decisão tomada na referida reunião, haveria que providenciar pelo seu depósito na 2.ª feira seguinte. Tudo o mais que se passou é, no mínimo, ética e legalmente inaceitável.
R - Que moral tem este membro da CD para votar neste caso?
PM - Desconhecia que o pai do dr. Domingos Lopes era vice-presidente do mesmo clube à data de decisão do processo disciplinar em que se declarou impedido por esse motivo.
R - É verdade que, num período de 4 anos, esta foi a primeira vez que houve uma acta na CD da Liga?
PM - Desconheço que fossem elaboradas actas das reuniões da CD em que participei, não só por nunca ter visto nenhuma, como também nunca vi o secretário da CD, que secretariou todas as reuniões, a escrever qualquer acta ou apontamento nesse sentido. A primeira vez que foi demonstrada preocupação em elaborar uma acta, foi da parte do dr. Gomes da Silva, precisamente no início da última reunião da CD no passado dia 9 de Junho, reunião essa onde ocorreram os factos que motivaram a minha indignação assim como a do dr. Frederico Cebola, e que originaram as nossas demissões.
R - Que deve ser mudado no futebol português para que situações destas não se repitam?
PM - O futebol português e em duas palavras, precisa de homens verticais que o sirvam e o rspeitem, conferindo-lhe verdade, credibilidade e paixão.
4 Comments:
At 17/6/06 22:44, Luis Lacerda said…
Mario
obrigado por transcreveres aqui mais um documento de alto valor em todo este processo do "Caso Mateus".
A Vitoria sera nossa !!!
Um abraco
At 17/6/06 22:55, JuventudeBelém said…
Sempre que puder irei transcrever aquilo que for necessário para clarificar este caso e acabar com a corrupção que existe no nosso futebol e claro está manter o nosso Grande Clube na Liga.
Saudações Azuis
At 18/6/06 00:13, Anónimo said…
Mário, muito obrigado por ter disponibilizado esta importante entrevista!
At 24/6/06 13:13, Anónimo said…
Votem: http://clubesdeportugal.blogspot.com/
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